Tous les articles par Sofia Boito

São Paulo – dia 2

19.03

Hoje são 14:50h e eu já tive duas (ou mais) crises de choro. Fico pensando no que vai acontecer com a população pobre no Brasil. A quantidade de desempregado e a falta de governo deste governos desgovernado. Estamos em um avião em rota de colisão e o piloto é um demente, assassino e fascista. Não consigo me concentrar em nada. Na teoria deveria dar aula online na semana que vem. Mas prepara uma aula sobre Diderot e o Drama Burguês a essa altura, parece-me algo quase insensato. Fico também pensando em como seria ministrar uma aula sem ver os alunos, sem poder conversar com eles, etc. E aí fico chateada por eles que terão um semestre terrível. (Sei que nada disso é um GRANDE problema, mas neste momento emergem esses pensamentos simultaneamente no meu cérebro e não me permitem pensar com lucidez.) Eu me sinto sem reação, totalmente congelada, nesta suspensão de vida, com o mundo virtual que acaba invadindo cada segundo do meu dia, cada milímetro do meu pensamento, casa decibel do meu ouvido.

são Paulo – dia 1

Eu começo este diário olhando para o branco do meu calendário. Até poucos dias estava empolgada e aflita com todo o trabalho que teria neste próximo mês. Ensaios, leituras, aulas, performances, tudo parecia muito, tanto, mas também era uma sensação boa de início de ano promissor. Há anos estou desejando um calendário assim, cheio de datas ocupadas por trabalho.

Agora tudo está em suspenso. Sem ao menos sabermos SE e QUANDO voltamos a nos matar de trabalhar, gastar, poluir. A sensação é que o vírus nos obriga a olhar para nós mesmos. “O que estamos fazendo? O que de fato queremos e precisamos para viver?” A notícia de que talvez esta seja uma situação que pode durar meses e meses me tirou o chão. O que será de mim se não houver um outro aqui? Até quando poderia aguentar sem u toque? Se Sartre acha que o inferno é o outro, eu peno que o contrário não é verdadeiro: com certeza o meu céu não está em mim.